Uma escolha muito importante na criação de um livro é o foco narrativo, ou ponto de vista. Trata-se da perspectiva na qual a história será contada. Poderá ser em 1ª pessoa ou em 3ª pessoa. No caso da novela romântica, o foco narrativo mais frequente é o de 3ª pessoa. Mas isso não significa que não existam novelas narradas em 1ª pessoa ou que esta forma não seja adequada ao gênero. Tudo depende da intencionalidade do autor.
Para escolher entre as duas possibilidades, é preciso conhecê-las bem, saber seus prós e contras. E também saber que dentro de cada uma destas pessoas do discurso se encerram diversas possibilidades. Vamos dar uma olhada nos focos mais básicos e comuns nas narrativas de ficção:
1. Narrativa em 1ª pessoa:
A narração é feita por alguém que participa da história. É um foco interno. O narrador pode ser uma personagem principal ou coadjuvante. Suas vantagens são a possibilidade de construir um maior envolvimento com os acontecimentos, explorar melhor a subjetividade, dar verossimilhança à narrativa, estreitar o laço entre a personagem e o leitor criando um clima intimista, de confidência. Como desvantagens pode-se citar: visão limitada dos fatos, ênfase em uma única personagem, parcialidade na narrativa dos fatos já que estes nos chegam filtrados pelo olhar e sentimentos de uma personagem.
a) narrador personagem principal: restringe o campo de narrativa a seu próprio universo (principalmente no caso da novela romântica, onde inevitavelmente há dois protagonistas) e cria uma sensação de narrativa autobiográfica
b) narrador personagem secundário: possibilita que o leitor transite pelo universo de vida dos dois protagonistas (no caso da novela romântica) na medida em que essa personagem pode circular pela vida de ambos, mas a narrativa é vista pelos olhos de alguém que está fora dos fatos. Ao mesmo tempo em que isso amplia a visão do leitor, restringe a narrativa pois perde-se a subjetividade dos protagonistas.
2. Narrativa em 3ª pessoa:
A narração é feita por alguém que observa a história. É um foco externo. Suas vantagens são a imparcialidade, a possibilidade de explorar vários ângulos de um mesmo fato, a objetividade, clareza e lógica. Algumas de suas desvantagens são: a distância entre narrador e história (que será a mesma entre o leitor e a história), pouca subjetividade, foco maior nos fatos que nos sentimentos.
a) narrador-observador: ele observa e conta o que vê, de forma objetiva, direta e imparcial. Este narrador não se mescla com o íntimo das personagens.
b) narrador-parcial: apesar de ser externo à história, identifica-se com uma das personagens e dá maior destaque a ela em sua narrativa. Por vezes contrapõem-se às outras personagens em favor de sua preferida.
c) narrador-onisciente: é aquele que tudo sabe sobre todos. Mesmo não participando da história, ele conhece e relata pensamentos e sentimentos de todas as personagens. Este narrador fornece a visão completa dos fatos, pois invade o mundo interior das personagens e o traz à luz, explicando e justificando fatos, apresentando versões diferentes para que o leitor possa confrontá-las.
Cristina Pereyra
Escritora
Brasil
www.cristinapereyra.com
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